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19 de nov. de 2011

O perigo do material radiativo

Histórico de acidentes

Imagem Google

Vários acidentes ocorreram ao redor do mundo com fontes radioativas que foram parar em depósitos de sucatas. Os casos mais graves envolvendo mortes ocorrem sempre com fontes que emitem radiação gama de alta energia e com atividade alta, geralmente de Cobalto-60 ou Césio-137, utilizadas em equipamentos para radioterapia em pacientes com câncer.
Nos últimos 25 anos, ocorreram 23 mortes de pessoas relacionadas ao trabalho com sucatas metálicas ao redor do mundo. O maior acidente radioativo aconteceu em Goiânia em setembro de 1987.
O acidente de GoiásNo final de 1985, o Instituto Goiano de Radioterapia mudou-se para novas instalações, levando uma unidade de radioterapia com uma fonte de Cobalto-60 e deixando nas instalações antigas um equipamento velho. Esse equipamento era utilizado para radioterapia em pacientes com câncer e continha em seu interior uma fonte radioativa de Césio-137 com atividade de aproximadamente 51 TBq. A atividade de uma fonte radioativa indica o número de desintegrações nucleares espontâneas por unidade de tempo, e sua unidade no sistema internacional é o Becquerel (Bq) que representa 1 desintegração por segundo, portanto a fonte tendo atividade de 51 TBq significa que emitia 51 x 1012 raios gama de alta energia por segundo, o que é uma altíssima intensidade de radiação. O abandono dessa fonte não foi notificado à autoridade brasileira regulamentadora, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). As instalações anteriores foram abandonadas e a unidade de radioterapia ficou totalmente insegura.

Imagem Google

Quando os primeiros sintomas causados pela exposição à radiação surgiram (náuseas, vômitos, mal-estar e diarréia), não foram relacionados à radiação pelos médicos consultados.
Em 28 de setembro, duas mulheres das famílias envolvidas relacionaram o aparecimento das doenças à presença da fonte radioativa e levaram parte do pó, de ônibus, a um médico da Vigilância Sanitária de Goiás, que solicitou a presença do físico do órgão. No dia seguinte, o físico percebeu do que se tratava e a gravidade da situação e comunicou o fato à CNEN e à Secretaria da Saúde de Goiás.
Na madrugada de 30 de setembro, chegam a Goiânia o diretor de fiscalização da CNEN da época e dois técnicos do IPEN – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, de São Paulo. Após tomarem conhecimento da situação, convocaram a presença de técnicos e pesquisadores dos institutos da CNEN e solicitaram o apoio das Forças Aéreas Brasileiras - FAB e reforço médico à Nuclebrás e às Furnas, empresa que opera as usinas nucleares de Angra dos Reis e possui pessoal e equipamentos para atender a situações de emergências radiológicas.
A partir de 30 de setembro, as pessoas com suspeita de contaminação foram encaminhadas ao Estádio Olímpico de Goiânia e submetidas aos procedimentos de descontaminação. Suas roupas foram descartadas como rejeito radioativo. As pessoas com maior grau de contaminação e lesões visíveis foram encaminhadas ao Hospital Geral de Goiânia e os seis pacientes em estado mais grave encaminhados ao Hospital Marcílio Dias no Rio de Janeiro.
As formas de exposição das vitimas foram:
  • Exposição à radiação externa;
  • Contaminação externa e interna por manuseio direto da fonte;
  • Comercialização de materiais contaminados;
  • Contatos pessoais e profissionais;
  • Circulação de animais contaminados;
  • Circulação de ferramentas contaminadas;
  • Ação do vento;
  • Ação da chuva.
Goiânia tinha na época uma população de 1,2 milhão de habitantes e foram monitoradas 113 mil pessoas (aproximadamente 10% da população), sendo encontrados 249 indivíduos com contaminação significativa.As doses recebidas pelas pessoas expostas à radiação foram:A dose equivalente, que é a dose absorvida média recebida por um órgão ou tecido humano no sistema internacional, é o joule por quilograma, denominado Sievert (Sv) citado na tabela acima. O limite de dose para indivíduos do público (pessoas não envolvidas com o trabalho com materiais radioativos) é de 0,001 Sv (1 mSv) por ano, exceto para as doses recebidas em exposições médicas. Ocorreram 4 mortes relacionadas diretamente ao acidente.Para a descontaminação da região atingida foi necessário além das equipes de técnicos em radioproteção, um grupo com treinamento especial do Exército, operadores de máquinas pesadas e o apoio da Defesa Civil. Este trabalho levou 3 meses.
Foram encontradas 45 casas contaminadas. Quatro foram totalmente demolidas e 41 descontaminadas. Aqueles 100 g iniciais de Césio geraram um volume de 5 mil m3 de rejeitos radioativos compostos principalmente de materiais de demolição, objetos pessoais, móveis, roupas utensílios domésticos e terra.
Estes rejeitos foram depositados em Abadia de Goiás, município localizado a 20 Km de Goiânia, num local especialmente construído para o armazenamento definitivo desse material.
Outros acidentes com material radiativo em sucatas aconteceram depois do caso de Goiânia como o caso da Tailândia.
Outros acidentesApós o acidente de Goiânia ocorreram outros acidentes fatais com radiação em depósitos de sucata.

AnoPaísTipo de fonteMortes
1992ChinaFonte perdida de Co603
1994EstôniaFonte roubada1
2000TailândiaFonte perdida de Co603
2001EgitoFonte perdida de Co602
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­O acidente ocorrido em Samut Prakarn, na Tailândia, em 2000 mostra bem a dificuldade encontrada por trabalhadores em identificar a presença de material radioativo em depósitos de sucata. Na Tailândia, na época, só havia 20 centros de radioterapia, onde havia 25 unidades de radioterapia em operação. Uma empresa sediada em Bangkok possuía vários equipamentos de radioterapia sem autorização do órgão regulador da Tailândia, a OAEP – Thailand Office of Atomic Energy for Peace.
Em meados de 1999 a empresa retirou de um armazém alugado algumas blindagens contendo fontes radioativas e as colocou num local sem vigilância, sem a autorização da OAEP. Em janeiro de 2000, alguns indivíduos entraram naquele local e desmontaram parcialmente uma das blindagens. Eles levaram o equipamento para a residência de um deles, onde quatro pessoas continuaram a desmontá-lo. A blindagem possuía o trifólio, símbolo que indica a presença de radiação e uma etiqueta de advertência, porém os indivíduos não sabiam que o trifólio indicava a presença de material radioativo, e a etiqueta de advertência não estava em um idioma que eles entendessem.
Dois anos após, em 13 de setembro de 1987, dois catadores de sucatas entraram no prédio abandonado, encontraram o equipamento, e não sabendo o que era, mas achando que poderia ter algum valor, removeram parte do equipamento para a casa de um dos catadores. Lá o equipamento foi desmontado e a fonte radioativa, constituída por uma cápsula de aço inoxidável que impedia o contacto com o pó radioativo, foi rompida com o uso de uma marreta. A fonte possuía aproximadamente 100 g de pó aglomerado de cloreto de césio, que é altamente solúvel e de fácil dispersão.
A contaminação do ambiente resultou na irradiação e contaminação externa e interna de várias pessoas.
Depois que a cápsula da fonte foi rompida, partes do equipamento foram vendidas para o dono de um ferro-velho. Ele notou que o material da fonte ficava azul no escuro. Esse efeito fosforescente acontecia em virtude da altíssima atividade específica da fonte. Várias pessoas ficaram fascinadas pelo material durante muitos dias. O pó foi mostrado a amigos e parentes. Fragmentos da fonte do tamanho de grãos de arroz foram distribuídos a várias famílias.

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